quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Agulha de vitrola

Certa vez, enquanto aguardava uma conexão no aeroporto, caiu em minhas mãos uma daquelas revistas promocionais de Free Shop. Já estava cansada de ver tantas ofertas, quando deparei com uma frase de José Saramago que me encantou. Ela diz o seguinte: “É pela palavra que nos fazemos, que nos criamos, que nos salvamos. Não temos outra coisa. Somos as palavras que utilizamos. A nossa vida é isso.”

Fiquei fascinada com ela não só por ser uma colecionadora de frases (é verdade, tenho um caderninho lindo que ganhei do meu marido no qual anoto frases e pensamentos valiosos que vejo registrado por aí), tampouco pela sensibilidade do autor, mas, sobretudo, porque a frase caiu como uma luva para mim, já que EU ADORO FALAR!!

Dizem que falar demais é mal de família, e a minha herança genética, está aí para confirmar. Minha avó materna era uma verdadeira maritaca e minha mãe, quando embala na conversa, também não fica atrás. Meu pai costuma brincar que eu fui vacinada com agulha de vitrola, pois desde pequena eu falo incansavelmente, mas o fato de falar pelos cotovelos já me rendeu boas saias justas e neste ponto não estou só, pois as mulheres, de um modo geral, falam meio “desembestadamente” e quando se dão conta já disseram além da conta.

Tenho uma amiga que costuma dizer “Ups, falei!” todas as vezes que a língua fica maior do que a boca e ela solta um comentário desnecessário, fruto da ânsia de falar demais. Aliás, atire a primeira pedra quem nunca se viu na situação de parabenizar uma conhecida pela gravidez quando na verdade ela só está uns quilinhos acima do peso? E as vezes em que soltamos pérolas do tipo “o que você fez no seu cabelo?”, quando na verdade a interlocutora está desesperada com o estrago feito pelo cabeleireiro, a ponto de sair de casa com um saco na cabeça. Se peso e cabelo são os campeões de audiência nos “foras” entre mulheres, não posso deixar de falar na preferida dos homens, que é a nossa mania de discutir a relação, na maioria das vezes levando a um “lero-lero” que não leva a lugar nenhum...

Nem na hora de ir ao banheiro as mulheres param de falar. Quando não vão em dupla, arrumam uma “prosinha” enquanto fazem xixi, coisa inimaginável para o sexo oposto, ou você acha que enquanto está lá, concentradão, tentando acertar o buraco do mictório, os homens falam da celulite do fulano ou do sapato do beltrano?

É por essas e outras que, com todo o respeito, faço uma adaptação na frase do grande escritor José Saramago. No caso das mulheres, pela palavra nos fazemos, nos criamos, mas não nos salvamos, pelo contrário, costumamos, por meio dela, entrar numa fria!!!