quinta-feira, 15 de julho de 2010

O carma das mulheres

Antes de mais nada, uma explicação. O que me motivou começar a escrever não foi um desejo adormecido, tampouco uma inspiração sublime. O que me move nessa aventura é algo muito maior, uma característica que está presente no DNA feminino, e que talvez nos acompanhe por toda a eternidade, a culpa. Apesar de me considerar uma mulher moderna, daquelas que fazem mil coisas ao mesmo tempo e conseguem dar atenção (a quase) todo mundo, vivo cercada pela culpa.

Foi a culpa por ter cursado jornalismo, investido quatro anos da minha vida e um bom dinheiro dos meus pais para obter essa formação, sem sequer ter escrito um anúncio fúnebre ou redigido uma notinha para coluna social, que me levou a buscar algo a realizar nessa carreira. É como se tivesse que prestar contas não sei a quem (talvez à minha própria consciência), de maneira a justificar tal escolha, embora bem sucedida e realizada na profissão que exerço, a de pedagoga.

E, tenho certeza, de que a minha história não é muito diferente da de outras mulheres. Nos sentimos sempre em dívida, estamos constantemente pedindo desculpas, seja por aquilo que fizemos, não fizemos, pelo que ainda vamos fazer, por o que deu errado e até por aquilo que deu certo. Nossa coleção de desculpas é vasta e essa dificuldade de relaxar, de estar sempre em alerta tentando apagar incêndios - que em sua maioria não foram provocados por nós -, é que nos têm deixado exaustas.

Lembro-me que durante oito longos anos fiz faculdade em um horário e trabalhei no outro, intercalando nesse período diversos cursos de especialização e aperfeiçoamento. No entanto, no primeiro ano alforriada, quando “só” tinha que trabalhar, em vez de sentir-me livre, leve e solta, adivinha qual foi a minha sensação? Culpa!

Não achava justo ficar um período do dia sem fazer “nada”, como se não tivesse uma tonelada de atribuições para fazer em casa ou resolver na rua. E assim, tomada pela culpa, esse carma que nos persegue 24 horas por dia, comecei a buscar coisas com que me ocupar, até que num belo dia veio novamente a culpa por não ter tempo para mim, para o marido, família, amigos, casa e por aí vai...

E, foi graças à minha companheira inseparável, a culpa, que me dispus a escrever, decidindo me aventurar a falar sobre aquilo que mais me aprisiona (e fascina), o universo feminino. Mas, devo confessar que fui presa na minha própria armadilha, pois estou gostando do negócio. É quase como uma catarse, já que posso falar pelos cotovelos, sem a preocupação de ser ouvida. E assim vou me reinventando, registrando as minhas memórias, só que dessa vez sem culpa, como se estivesse cometendo um delito grave. Clarice Lispector disse uma vez: “É na hora de escrever que muitas vezes fico consciente de coisas, das quais, sendo inconsciente, eu antes não sabia que sabia”. Ela tinha razão.

Mulheres vuvuzelas

Sei que posso ser linchada em praça pública a respeito do que vou dizer, mas como nem Jesus Cristo foi uma unanimidade, não terei eu a pretensão de receber aprovação sobre aquilo que penso e digo. Mas a verdade é que, com a Copa do Mundo, observei um fenômeno que me causa enorme antipatia e daí a crítica: o número de mulheres entendidas sobre futebol e contundentes na sua torcida.

Sem nenhum apelo machista (longe de mim), mas penso que o ímpeto de gritar, xingar a mãe do juiz (no caso do Brasil, do técnico e do meio campo!), cabe melhor à boca e às discussões dos homens do que às nossas. Também não acho que a nós compete unicamente ficar comentando sobre coxas de jogadores, tampouco escalando a seleção dos mais bonitos da Copa, temos muito mais a dizer sobre futebol ou qualquer outro esporte, mas querer ocupar um espaço que combina muito mais com o universo masculino me parece uma maneira um pouco equivocada de querer participar.

Digo isso porque ao longo da Copa da África tive a oportunidade de acompanhar na companhia do meu marido, os jogos da Seleção Brasileira em ambientes distintos e em todos eles foi possível encontrar candidatas a substitutas do Galvão Bueno, tamanha a empáfia e eloquência nas suas torcidas. E o pior de tudo isso é que, de uma maneira geral, a quantidade de comentários é proporcional ao número de bolas fora que as mulheres cometem em suas intervenções futebolísticas.

Modismo, necessidade de afirmação, ou vontade de aparecer? Não sei, só penso que há outras maneiras de nos expressar, torcer e mostrar a paixão pelo esporte número um na preferência nacional e não ficar parecendo com uma vuvuzela: barulhenta, inconveniente e fora do tom!